quinta-feira, 9 de outubro de 2008

On The Rock

O Gustavo Padovani, o Felipe Arra e o Thiago Venanzoni são os três malucos que comandam o programa On The Rock, que vai ao ar toda quarta-feira, às 17h, pela web rádio Unesp Virtual e que também pode ser ouvido pelo playlist do blog do programa. Esses multifuncionais homens, verdadeiras parabólicamarás da informação, paladinos da expansão-comunicativa pós-moderna e que seguem à risca a filosofia vale-tudo do mestre Gil, são também membros da equipe de redação da Revista Wave. Então, em um exercício daquilo que os marketeiros e publicitários chamam de “Troca-troca virtual”, estou a divulgar o programa dos valorosos sujeitos acima citados e estou a estar esperando que o mesmo seja feito com meu nobilíssimo site na próxima edição do On The Rock.
Por isso, leitor: visite de cá, visite de lá e seja feliz.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Reflexo

Como já dito e repetido aqui, sou editor-chefe da Revista Wave, site de preocupações culturais, mas não apenas. Na última edição, a de número 012, por exemplo, assino uma crônica e uma análise sobre as eleições municipais, além de um perfil do cientista político César Benjamin. Na seção “Música”, teço meus comentários sobre o novo disco da banda inglesa Oasis, o fraco Dig Out Your Soul.

O especial da semana é uma matéria do amigo Felipe Arra sobre os bastidores da realização do curta-metragem Reflexo, projeto de alunos do curso de Rádio e TV da UNESP. O filme estréia no dia 3 de novembro em Bauru em salas de grande porte da cidade. A matéria ficou pronta antes da divulgação oficial do cartaz do curta, que você pode conferir abaixo.

[Sim, há membros da redação da Revista Wave envolvidos na produção e atuação do filme. Antes que sejamos acusados de excesso de camaradagem por ajudar na divulgação de projetos de amigos em um site que se propõe jornalístico, penso que qualquer mente pensante que se atreva a ler o conteúdo do texto perceberá a isenção na confecção da matéria e que o real enfoque é documentar o funcionamento e a realização de um curta-metragem independente.]

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Meme e eu, eu e meme

Adoro interações entre blogs. Nesta semana, por exemplo, recebi um meme de presente da querida Renata D’Elia, do Magic On Sundays. O leitor, tão desatento quanto eu, deve se perguntar: o que é um meme? Pergunta difícil, visto que também não faço a mínima idéia. No começo, pensei que era alguma espécie de marketing viral do DJ Memê, aquele parceiro ativo ou passivo do Lulu Santos. Mas me enganei.

O presente (de grego) se revelou então. Consiste em criar uma lista das sete músicas preferidas em todos os tempos e repassar o abusado meme para outros cinco blogueiros. Ao que parece, o tal meme sugere algo descompromissado, leve, sem muita encanação (pelo menos, é no que tento acreditar para evitar futuras cobranças, mais internas que externas).

Portanto, subvertendo um pouco as regras, decidi criar duas listas. Uma de música nacional e outra de música geral, digamos assim. Assim, aumento as probabilidades de não me irritar com a minha própria lista. Abaixo, os blogs que receberão o meme e que, sem dúvida, criarão listas muito diferentes das minhas.

Músicas nacionais
1) “Chega de Saudade”, por João Gilberto (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
2) “Baby”, por Gal Costa (Caetano Veloso)
3) “Águas de Março”, por Elis Regina e Tom Jobim (Tom Jobim)
4) “Esotérico”, por Doces Bárbaros (Gilberto Gil)
5) “Travessia”, por Milton Nascimento (Milton Nascimento/Fernando Brandt)
6) “Construção”, por Chico Buarque (Chico Buarque)
7) “Sá Marina”, por Wilson Simonal (Antônio Adolfo/Tibério Gaspar)

Músicas internacionais
1) “Let Down”, Radiohead
2) “Man On The Moon”, R.E.M.
3) “Ultra-Violet (Light My Way)”, U2
4) “In Dreams”, Roy Orbison
5) “My Cherie-Amour”, Stevie Wonder
6) “Dancing In The Dark”, Bruce Springsteen
7) “Rocking Back Inside My Heart”, Julle Cruise
Minhas vítimas

Cheer-leader

Caetano, em seu blog Obra em Progresso, sobre a candidata a vice-presidência dos Estados Unidos, Sarah Palin:
Ela parece essas mães ainda jovens e bonitas que fazem cara de secundaristas e deixam os filhos embaraçados. Eu odiaria ser filho dela.

sábado, 4 de outubro de 2008

VMB 2008

Júnior (ex-Sandy, bateria), Peu (ex-Pitty, guitarra), Champignon (ex-Charlie Brown, baixo), mais o vocalista zé-ninguém Perí, ao vivo pela primeira vez, no VMB 2008, da MTV. Tudo para dar errado, membros retirados dos maiores cancêres da música jovem brasileira dos últimos anos. Por isso meu espanto ao gostar tanto da música. Peu e Champignon são ótimos músicos e o Júnior é uma enorme surpresa: não há, no rock mainstream brasileiro, uma bateria tão inventiva e pesada, com belos fraseados, como a dessa música, "Chove Agora". O ponto fraco é Perí, que forçou demais para simular Scott Weiland, do Stone Temple Pilots, e que tem a voz bem limitada. Em estúdio, quem sabe ocorra um upgrade? Enfim, muito melhor que a vergonhosa apresentação em playback dos ingleses do Bloc Party.

Quanto aos prêmios e premiações, quem se importa com o VMB? São os mesmos artistas concorrendo, os mesmos artistas vencedores, as mesmas apresentações constrangedoras de sempre. Justa foi a presença do Chimbinha, do Calypso, na votação da Banda dos Sonhos, com Marcelo D2 no vocal e os Paralamas Bi e Barone no baixo e na bateria. Formação bizarra mesmo foi a apresentação conjunta da banda emo Fresno e os sertanejos Chitãozinho & Xororó, na clássica "Evidências". Música jovem é isso aí, meu rei, com direito a participação ativa e tudo da platéia.

Lista dos vencedores do MVB 2008

Artista do ano: NX Zero

Melhor artista internacional: Paramore

Artista revelação: Strike

Aposta MTV: Garotas Suecas

Hit do ano: NX Zero, "Pela Última Vez"

Show do ano: Pitty

Melhor videoclipe: NX Zero, "Pela Última Vez"

Webhit do ano: "Dança do quadrado"

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Tin Tin Por Tin Tin

Tenho em meu círculo de amizades vários aficionados em música e confesso achar raro que sejam pouquíssimos os admiradores de João Gilberto. Alguns tem aversão a qualquer tipo de música nacional, outros gostam de Chico, Caetano e quetais, mas não tem paciência para bossa nova e há os típicos moderninhos que não ouvem nada que não tenha sido feito de 1998 pra cá.

Entendo-os, de certa maneira. Ouvir João Gilberto requer uma espécie de ritual para se adentrar nas grandes qualidades da obra do baiano, que são justamente a sutileza, a riqueza de detalhes, aquela divisão rítmica toda particular, a paradoxalmente contrastante harmonia entre voz e violão, a respiração perfeita. Necessita-se de silêncio e concentração com um único enfoque e com uma única finalidade: a apreciação musical. A letra das canções, a emoção exacerbada, a contextualidade da obra, as roupas usadas pelo artista e todas essas outras características que encobrem a obra de vários talentos pelo mundo não devem ser levadas em conta ao se ouvir João Gilberto.

Ali, o quando, o onde e o porquê pouco importam. O que interessa é o como. João reinterpreta qualquer canção de uma maneira particularíssima que nem o próprio repete. E isso é dos maiores atrativos do artista. Com apenas a voz e o violão, ele poderá repetir ad infinitum uma música como “O Pato” e é muito provável que cada versão terá algum diferente mínimo detalhe, alguma sílaba levemente adiantada ou atrasada, algum acorde alongado, alguma vocalização extra.

Enfim, tudo isso já foi dito várias vezes por outros admiradores de João (mesmo na Wave já publiquei um texto sobre o disco Amoroso, de 1977). Mas repeti apenas para ilustrar com um ótimo texto alheio uma das minhas características preferidas do baiano ermitão, que é a sua incrível capacidade de respiração. O Tiago A., em texto ainda não finalizado sobre a recente apresentação em Salvador, faz uma análise sobre a forma de João cantar “Retrato em Branco e Preto”. O texto é divertido e me fez perceber que não sou o único que também realiza a brincadeira da respiração. No final, um vídeo de João Gilberto interpretando a já citada "Retrato em Branco e Preto". Leiam o texto inteiro sobre o show no blog do Tiago (publicado em duas partes, até o momento; uma terceira vem aí), vale muito a pena. Os comentários em parentêses são meus.
Vocês conhecem Retrato em Branco e Preto, de Tom Jobim e Chico Buarque:

1 Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
4 Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar tanto pior
7 O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
12 Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retratos
Eu teimo em colecionar
15 Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
18 Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
21 Pra lhe dizer que isso é pecado
Trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
25 Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

(Os algarismos estranhos estão aí para que, mais adiante, eu possa falar mais facilmente da maneira como João executou essa canção ao longo de sua carreira.) Conta a internet que Tom Jobim gravou a música pela primeira vez em 1965, no álbum A Certain Mr. Jobim. Nessa época ela ainda não tinha letra e se chamava "Zíngaro". Só depois, quando Tom a deu a Chico para que este fizesse a letra, é que ela passou a se chamar "Retrato em Branco e Preto". Se não estou enganado, João Gilberto a registrou em quatro de seus discos. A primeira vez foi num disco de 1976: The Best of Two Worlds, gravado ao vivo em Nova York, com Miúcha e Stan Getz. A segunda foi em estúdio; está em Amoroso, de 1977. A terceira aconteceu num show especial para a Rede Globo, que virou disco em 1980. A quarta e última vez está no disco de 1986, que registra seu show no 19º Montreux Jazz Festival.

Para falar do que torna as versões de João mais especiais que todas as outras que já ouvi, vou recorrer a um episódio auto-biográfico. Minha primeira audição dessa música na voz e no violão de João se deu na tarde do dia em que pus as mãos no disco do especial da Globo, disco que se chama João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (e esse disco ainda tem outra preciosidade: o dueto de João e Rita Lee na música "Joujoux e Balangandãs", de Lamartine Babo). Eu já tinha lido Chega de Saudade, de Ruy Castro, e já tinha topado a brincadeira que ele lá sugere: a de botar os discos de João pra tocar e tentar cantar junto com ele, karaokê-style. Durante um tempo, essa foi minha brincadeira favorita. A graça dela está em que fazer isso é bem difícil, porque João Gilberto tem um jeito especial de tomar fôlego para cantar: a reserva de ar que ele faz é tão gigantesca que ele consegue emendar um determinado verso de uma canção no verso seguinte e no outro e no outro sem precisar respirar entre eles (v. g.: João conseguiria ler esse último período em voz alta com um só fôlego e ainda assobiaria no final). Quando Ruy Castro chamou minha atenção para isso, passei a prestar atenção nos momentos em que João pegava ar, para tentar fazer igual. Depois de algumas tentativas, eu invariavelmente conseguia (aspectos como afinação e beleza nunca foram necessariamente levados em conta). Mas com "Retrato em Branco e Preto", a tarefa parecia impossível (aliás, considero que em "Águas de Março", gravada por João no seu disco de 1973, tal tarefa seja ainda mais ingrata; ele simplesmente emenda frases e frases sem parar).

Para entender o que estou tentando dizer, experimente este teste. Cante "Retrato em Branco e Preto" e preste atenção nos momentos em que você vai parar pra respirar. Cante, vá―pra ficar mais confortável, certifique-se de que ninguém está olhando. E só leia o resto depois de ter feito o teste; se não, não tem graça.

Pronto? Bem, se você for um cidadão comum, são grandes as chances de que você tenha respirado ao fim de cada verso ou que, no máximo, tenha conseguido cantar dois deles, antes de sentir a necessidade de respirar de novo. Espero que a partir de agora, depois desse pequeno exercício, você possa entender (como eu entendi quando ouvi a música pela primeira vez) a razão por que João Gilberto não é um cidadão comum. Saiba que, enquanto você e eu, em nossas execuções dessa canção, tendemos a cantar um, no máximo dois versos, parar, respirar e cantar mais um, o mínimo que João Gilberto costuma cantar é uma estrofe inteira! (Considero estrofes os trechos que aparecem entre os algarismos.) E no disco do especial da Globo, onde a ouvi pela primeira vez, ele faz o impossível. Logo na primeira execução do tema, canta do início da linha 4 até o fim da linha 10: de " Já conheço as pedras do caminho" até "E que no entanto".

Aí você diz, "Ah, isso é fácil. Basta cantar mais rápido", e eu ouço você dizer isso e te informo que João canta "Retrato em Branco e Preto" sem alterar seu andamento. Quer dizer, ele até altera, mas apenas para torná-lo ainda mais lento!
Hoje, depois de muito treino, eu até consigo acompanhá-lo nesse trecho; mas meu irmão, que há pouco estava ao meu lado enquanto eu verificava se ainda era capaz de tal façanha, disse que antes de começar a cantar essa parte, eu inspiro de uma maneira tão exagerada que pareço alguém que vai participar de uma aposta pra ver quem consegue ficar mais tempo embaixo d'água na piscina.

Fim da breve digressão.

Se você não toma cuidado, acaba viciando nessa brincadeira e não consegue mais ouvir João Gilberto sem prestar atenção nos momentos em que ele respira. Passa, então, a ter uma espécie de piada interna com ele: as outras pessoas, as que não repararam nisso ainda, ouvem a execução, e só. Você, não. Você fica recebendo uma mensagem contínua de João, em que se desvenda mais um pouco desse modo falsamente simples de fazer música, que tanto engana. Para quem ouve inadvertidamente, João aparece como alguém que não está fazendo esforço algum para cantar. Mas você, que adquiriu o hábito de enfileirar vários arquivos em mp3 da mesma canção para ouvi-los um atrás do outro, reparando nas sutilezas, nas diferenças entre uma versão e outra, você sabe precisamente o que está em jogo ali.
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Portfolio de Internet

Daniel Faria, 21, é editor-chefe da Revista Wave e escreve sobre música no blog Camisa Amarela. Atuou como repórter especial da Revista Paradoxo, foi colaborador da extinta Revista Bizz e do site Scream & Yell, além de outras colaborações nas editorias de cultura de outras publicações de internet.

Abaixo, links de textos publicados de abril de 2007 até setembro de 2008.


Entrevistas

Jair Naves, vocalista da banda Ludovic - Scream & Yell (04/07)

Alex Antunes - Scream & Yell (05/07)

Supercordas - Flop Art (07/07)

Vanessa Krongold, vocalista da banda Ludov - Revista Paradoxo (08/07)

Fabs, vocalista da banda Telepatas - Revista Paradoxo (10/07)

Do Amor - Revista Paradoxo (01/08)

Arnaldo Branco - Revista Wave (05/08)


Notícias

Novo disco da banda Manic Street Preachers vaza na Internet semanas antes do lançamento oficial - Revista Paradoxo (04/07)

Vanguarda de mentirinha: finalmente sai o primeiro álbum do Vanguart, os indies queridinhos de Cuiabá - Revista Paradoxo (08/07)

Orquestra Imperial busca um resgate estético da tradicional MPB em seu disco de estréia, Carnaval Só Ano Que Vem - Revista Paradoxo (01/08)

Marcelo Camelo lança Sou, aguardado disco solo - Revista Wave (09/08)

Reportagens

Especial Radiohead: 10 anos de "OK Computer" - Revista Paradoxo (06/07)

Melhores de 2007 - Matita Perê (12/07)

Quer conhecer o Tropicalismo - Revista Paradoxo (08/07)

O Tropicalismo é lindo! - Revista Paradoxo (08/07)

A Falsa Inclusão Digital - Revista Wave (04/08)

Resenhas, críticas e comentários

Arctic Monkeys, "Favourite Worst Nightmare" - Revista Paradoxo (04/07)

White Stripes, "Icky Thump" - Revista Paradoxo (04/07)

Dolores O'Riordan, "Are You Listening?" - Banana Mecânica (05/07)

Alguém se importa com Natalie Imbruglia? - Revista Paradoxo (08/07)

Apresentação de Jorge Mautner no SESC de Bauru - Revista Paradoxo (09/07)

Maria Rita, "Samba Meu" - Revista Paradoxo (09/07)

10 Discos Essenciais da Bossa Nova - Revista Wave (02/08)

Vários, "O Novo Rock Brasileiro" - Revista Wave (02/08)

João Gilberto, "Amoroso" - Revista Wave (04/08)

Luiz Melodia, "Pérola Negra" - Revista Wave (04/08)

Stanley Kubrick, "Nascido Para Matar" - Revista Wave (04/08)

Ney Matogrosso, "Inclassificáveis" - Revista Wave (05/08)

Frank Sinatra, "Nothing But The Best" - Revista Wave (05/08)

Coldplay, "Viva la Vida and Death to All His Friends - Revista Wave (06/08)

Marcos Valle, "Conexão" - Revista Wave (07/08)

"Batman - O Cavaleiro das Trevas" - Revista Wave (08/08)

CSS, "Donkey" - Revista Wave (08/08)

Artigos e crônicas

"OK Computer" - o segundo maior disco do rock? - Revista Paradoxo (06/08)

Seja agressivo! - Flop Art (07/07)

Complexo de vira-latas - Revista Bacana (08/07)

O que foi o Tropicalismo? - Revista Paradoxo (08/07)

A América Tropicalista de Agrippino - Revista Wave (02/08)

Crônica: A colméia - Revista Wave (03/08)

"Rio, 40 Graus" e o cinema nacional - Revista Wave (05/08)

Roda mundo, roda gigante - Revista Wave (04/08)


Brasil em Transe - Revista Wave (05/08)


Perfis

Kevin Carter - Revista Wave (02/08)

Leila Diniz - Revista Wave (03/08)

Fred Astaire - Revista Wave (05/08)

Vanja Orico - Revista Wave (05/08)

Waldick Soriano - Revista Wave (09/08)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Revista Wave - Edição 011

Já que o meu editorial da última edição da Revista Wave foi temático – a respeito da matéria sobre sexo virtual do querido Gustavo Padovani -, aproveito esse espaço para comentar o restante da edição.

Para o aficionado em música, já comentei aqui as duas matérias que escrevi para a revista. Perfil do recém-falecido Waldick Soriano e uma matéria sobre o novo disco de Marcelo Camelo (vale informar: as quatro faixas que ainda não haviam sido liberadas já estão disponíveis para download). O Cesare Rodrigues publicou uma apresentação a tradicional poesia japonesa Haicai e nos presenteou com alguns poemas de sua autoria. Na seção “Opinião”, tivemos a estréia do mais jovem colaborador do site, Vinicius Félix, 18, que assistiu ao stand-up do Rafinha Bastos, um dos apresentadores do CQC, o melhor programa da televisão brasileira atual.

Menção válida ainda para o Tiago Lopes que comparou a utilidade dos documentários de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles com o Bolsa Família (tão louvado pelo presidente Lula, “o maior mantenedor do gentinha lifestyle”, segundo o Tiago) e para os colunistas Joaquim Veloso, inconformado com o desprovido de inteligência Dunga, técnico da seleção, e Carol Bataier, essa “artista das letras”, segundo comentário espirituoso de um amigo.

*Como trilha sonora da realização dessa edição, já que o Camisa Amarela é um blog musical, andei a ouvir o disco Minas, de 1975, do Milton Nascimento - que tem “Fé Cega, Faca Amolada”, “Beijo Partido” e a épica “Ponta de Areia” -, o divertidíssimo disco de 1967 de Elza Soares e Miltinho e muito Julieta Venegas, que eu já comentei no último post e que é aquele tipo de cantora pop, ao mesmo tempo refinada e descompromissada, que não existe no Brasil. Além, é claro, da estréia solo do Marcelo Camelo e de algumas coletâneas do já saudoso Waldick Soriano.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Por ella no supe que hacer

Tenho ouvido abusadamente "Ilusión", o dueto entre Marisa Monte e a mexicana Julieta Venegas. Gravado no MTV Unplugged da Juliana, a faixa é um primor. A típica perfect pop song. Pretendo escrever sobre a cantora na próxima edição da Revista Wave - cuja décima primeira edição, aliás, está quente. Confiram.
Por enquanto, o vídeo dessas duas singelezas de cantoras.


domingo, 7 de setembro de 2008

Canção do amor demais

Na próxima edição da Revista Wave – que será atualizada na íntegra na terça-feira, mas que já conta com algumas novas matérias no ar -, publicarei dois textos sobre música que interessarão os leitores do Camisa Amarela, acredito. Minhas impressões sobre as 10 canções liberadas para download do aguardado novo disco do Marcelo Camelo e uma espécie de perfil opinativo sobre o recém-finado cantor brega Waldick Soriano.

Aparentemente antagônicos, há certas semelhanças entre os dois artistas que penso ser interessante mencionar. Tanto Marcelo quanto Waldick possuem em comum a problemática de aceitação e de divisores agudos de opinião: o “ame ou odeie” cabe perfeitamente na trajetória de ambos e os argumentos prós podem ser tão eficazes quanto os contras. A mesma perseverança religiosa com a que os fãs dos Los Hermanos devotavam ao ex-grupo de Marcelo corresponde ao fervor e ardor sentimental que Waldick, décadas após seus grandes momentos, costumava presenciar (e presentear) em seus últimos shows, principalmente no Nordeste, onde sempre foi rei.

Ambos cantavam as agruras do amor sem medo de soarem ridículos. Porém, se Waldick optou por reciclar o mesmo tema durantes anos e foi vítima do desprezo intelectual dos pensadores da música popular brasileira, há em Marcelo a possibilidade de ascender para essa classe que tanto rejeitou o cafona Waldick. O que provavelmente incitará novos preconceitos: vista como elitista, arrogante e setorizada, a MPB continua a provocar uma total falta de entrosamento com o público brasileiro. Marcelo, carioca, jovem e talentoso, carrega o estigma de herói universitário, apreciador do samba e revitalizador das nossas tradições musicais – o que causa repulsa em muita gente; a quem você acha que Lobão se refere na já famosa entrevista para o Jornal do Brasil ("aquele jornal que existia no Rio e que ainda existe", brincou recentemente Caetano) quando diz que “Tem que parar com essa coisa de ficar lambendo o saco de universotário marxista branquelo, essa coisa loser manos, petista, que virou maioria no Brasil. Porque o Brasil é o país da culpa católica, um país em que se valorizam as pessoas feias”?

Enfim, maiores discussões serão encontradas nos textos do site. Há mais a falar, mas confesso que nesse fim de semana vi-me envolvido por uma preguiça absurda e esperarei que alguma força estranha no ar (para citar Roberto Carlos – ou Caetano, não é? - que coincidentemente, apareceu na minha playlist no exato momento) motive meus próximos dias. Até lá.

*Aliás, a tal preguiça deve ter surgido por conta dessa sensação – citando Camelo em “Copacabana” - de que “meu coração tá com jeito de bem me quer, mulher”. Então fica tudo relegado instantaneamente em segundo plano. O leitor, um voraz apaixonado, acredito eu, entenderá.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Curimã ê!


Uma nota rápida: para os já saudosos de Dorival Caymmi, o site Gafieiras preparou um belíssimo especial sobre o baiano. O Gafieiras é uma publicação que se destina a recuperar e digitalizar parte da história musical brasileira por meio de longas e deliciosas entrevistas, ótimas colunas e um atualizado sistema de notícias. No Especial Caymmi, o site reúne reúne textos de jornalistas especializados em música popular brasileira, como Nelson Motta, Tárik de Souza e Pedro Alexandre Sanches, além de vídeos, discografia detalhada, músicas comentadas e mais. Ideal para os neófitos (que devem se avolumar por ocasião dos comentários da morte de Caymmi; necrofilia artística pode ser benéfica às vezes. Ou não?). Meu amigo Alexis Peixoto, do Canalhismo Fantástico, vai adorar.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Créu no pato

O mundo não deve, em ocasião alguma, viver apenas de reverência aos ídolos. E essa é a melhor imitação que eu já vi do Tom Cavalcante.

sábado, 30 de agosto de 2008

Pra lá de Teerã

Esse papo todo sobre o show de Caetano Veloso e Roberto Carlos em homenagem a Antônio Carlos Jobim já tá qualquer coisa. As ofensas (e contra-ofensas) se avolumam e, vejam só, até a Barbara Gancia, colunista da mesma Folha da “boba” Sylvia Colombo, resolveu defender as críticas do baiano. Achei coerente os argumentos da Barbara, que reproduzo aqui.

EU NÃO IA, NÃO fazia questão e, aliás, já tinha até matutado aproveitar a ocasião para dar mais uma desancada no rei, no meu site/blog, por conta daquela história escandalosa da biografia que ele censurou sem nem ao menos ler. Mas, na última hora, um amigo me convidou e eu, meio por dever de ofício, meio para honrar o privilégio concedido pelo amigo, acabei aceitando e indo ao Auditório Ibirapuera ver Roberto Carlos e Caetano Veloso cantando Jobim, no show em homenagem à bossa nova.

A noite saiu melhor do que a encomenda. Músicos de primeira qualidade, cenário corretíssimo, organização bombando, toda a bela (e “brutta”) gente de São Paulo comovidíssima na platéia, dois grandes ídolos no palco, enfim, acabei tendo de confessar, na minha coluna da Bandnews FM, que eu deveria pagar a língua, uma vez que o espetáculo tinha sido memorável. Pois qual não foi minha surpresa, no dia seguinte, quando fui ler os jornais e dei de cara com dois textos espinafrando o show. Peraí: será que estávamos no mesmo local? Abro aqui um parêntese para dizer que respeito os colegas que assinaram os textos em questão. Jotabê Medeiros (”O Estado de S. Paulo”) e Sylvia Colombo, desta Folha, são o que há de melhor no jornalismo cultural tapuia.

Além do que, conheço ambos e gosto deles. Tanto gosto, que sinto-me à vontade para discordar de tudo o que eles disseram. Vamos lá: Jotabê chamou o show de “naftalínico”, disse que “o concerto cedeu à nostalgia”. Ué, mas não era isso mesmo que o pessoal queria ver? Ou será que Roberto e Caetano deveriam ter apresentado roupagens inteiramente novas e exóticas para músicas incrustadas em nossa medula espinhal? Você pega dois artistas de uma certa idade, de estilos solidificados e glorificados, os coloca para cantar um repertório “clássico” e quer que eles promovam a queda da Bastilha? Para quê, Jotabê? Na minha modestíssima opinião, um dos aspectos mais sedutores do show foi justamente sua simplicidade. Jotabê, que sabe tudo de música, implicou de tal forma com o espetáculo que no seu texto sobrou até para o neto do homenageado: “O pianista Daniel Jobim usava chapéu característico do avô, como que para reiterar a onipresença do compositor. Um gesto dispensável, já que o próprio repertório tinha essa função”. Pois eu achei o panamá do Daniel um charme. E charme tem tudo a ver com bossa nova, tem não, JB?

A única coisa de que não posso discordar é quando ele diz que o Caetano deu “sambadinhas à Rubens Barrichello”. Bom humor é sempre a salvação da pátria. Sylvia Colombo, por sua vez, já chuta o balde na entrada. Começa dizendo que as celebridades estavam “loucas para aparecer” e que os fotógrafos emperravam a passagem. Sim, e daí, o que há de novo no front? Se em um evento dessa natureza a turma não estiver excitada, e se só um ou dois fotógrafos derem as caras, não terá sido um fracasso retumbante? As mesmíssimas duas coisas também podem ser ditas, digamos, da noite do Oscar. Sylvia fala ainda em desrespeito ao público. Ora, o que se viu ali não foi um evento normal com ingressos vendidos em bilheteria. A maioria dos bacanas que ali estava foi a convite do banco que patrocinou a brincadeira. Se era para ficar tiririca, que fosse com isso. E não com os dois artistas, que estiveram impecáveis.

Aliás, o assunto repercutiu tanto que o blog do Caetano no qual ele desanca com os jornalistas paulistanos ficou fora do ar pela quantidade de acessos na madrugada dessa sexta-feira. Muito também em razão de sua entrevista para o programa do Jô, quando o gordinho simpático solicitou de Caê “aquela música, ‘Sem lenço, nem documento’” e teceu tristes e desconhecidos comentários sobre Noel Rosa e Pixinguinha. Vergonha alheia total. Até o Lula resolveu tirar proveito nessa situação e falar sobre Caetano.

De toda essa saraivada de opiniões, há de se destacar as impressões do jornalista Pedro Alexandre Sanches (o último crítico musical decente da, que coisa, Folha de S. Paulo) sobre o show em homenagem a Jobim, com os méritos de quem escreveu dois belíssimos tratados sobre a Tropicália de Caetano e sobre a Jovem Guarda de Roberto, os livros Tropicalismo: Decadência Bonita do Samba e Como Dois e Dois São Cinco, ambos da Boitempo Editorial. É o mais belo texto sobre a apresentação dos dois cânones da MPB e não está presente em publicação alguma, mas apenas no ótimo blog do Pedro.

Para encerrar o assunto das intrigas, partiremos para a música, que é o que de fato interessa. Em vídeo, dois momentos da maior importância: o primeiro é a primeira aparição da dupla no segundo especial do Roberto para a Globo, em 1972. A música é “Como Dois e Dois”, a canção que Caetano fez no exílio londrino para retribuir “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”, que por sua vez é uma homenagem do Rei para o baiano. A música foi incluída no melhor disco de Roberto, o LP de 71 (o de “Detalhes”, “Todos Estão Surdos” e a própria “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”). De bônus, uma curiosa conversa sobre a rivalidade entre Emilinha e Marlene, que poderia servir de metáfora da suposta tensão ideológica entre Caetano e Roberto.


O outro vídeo é a óbvia “Alegria, Alegria”, gravada no programa natalino do Rei, em 1992, no ano dos caras-pintadas, do Impeachment do Collor e do sucesso da mini-série Anos Rebeldes, do Gilberto Braga, que colocou novamente a canção de Caetano em evidência. É meu primeiro provável contato com Caetano, quando eu tinha meus singelos cinco anos de idade. Lembro que foi das primeiras letras de música que decorei na vida. Atenção para o refrão: a voz de Roberto, no trecho “o sol é tão bonito” é deveras emocionante.


sexta-feira, 29 de agosto de 2008

"Eu sou um crítico muito melhor do que noventa mil vezes eles juntos, mutiplicados, entendeu?"


Na minha primeira postagem do Camisa Amarela, atentei para a incapacidade da crítica, sobretudo a paulistana, de estabelecer um ponto em comum entre a tradição histórica da música brasileira e a percepção moderna ao recriar factóides para o público leitor. Chamei a atenção também para os blogueiros que, supostamente seriam a alternativa contrária, mostram-se corrompidos pelo vício do imediatismo e da falta de pesquisa da grande imprensa.

Pois bem. Para quem não sabe, Caetano Veloso escreve regularmente no hotsite “Obra em Progresso”, uma espécie de blog em que o internauta pode acompanhar passo a passo da criação do novo disco do baiano, que deve ser lançado no fim do ano. Se inicialmente, o site abrigava vídeos com entrevistas ou trechos de músicas de shows, nas últimas semanas, o artista também aproveita o espaço para expor suas opiniões, tal qual vem fazendo desde pelo menos, 1966. E não é que o blogueiro Caê também mostra indignação com a imprensa paulistana?

Os alvos são “a boba da Folha” (Sylvia Colombo) e “o burro do Estadão” (Jotabê Medeiros). Escreveu Caetano, sobre as críticas recebias pelo seu show em parceria com Roberto Carlos na última segunda, no Auditório Ibirapuera, em homenagem a Tom Jobim:

Estou tão enfronhado no Rio com esse projeto da Obra em Progresso que tenho me sentido longe à beça de São Paulo. Vim aqui fazer o show com o Rei no belo teatrinho do Niemeyer no Ibirapuera e senti o tamanho da saudade que eu estava de Sampa. O teatro é elegante e induz à quietude. Se o show fosse no Ginásio do Ibirapuera, o ruído dos aplausos assustaria a boba da Folha e o burro do Estadão que escreveram sobre o show. Há anos não leio nada tão errado sobre música brasileira - e, mais uma vez, envolvendo Roberto Carlos e este transblogueiro que vos fala.

E prossegue:

Escrevo isso só para mostrar aos que comentaram as críticas hilárias da província paulistana que também li e que fiquei com pena dos dois fanfarrões que não sabem nem escrever. O do Estadão então é inacreditável. Como é que qualquer editor deixa sair um texto com tantos erros de português, tantas redundâncias e obscuridades, tamanha incapacidade de articular pensamentos? A da Folha não sabe pensar mas exprime de forma primária esse seu não-saber. O outro, nem isso. O texto dele é tão mal escrito que a gente tem de adivinhar o que ele pensa - e chega à evidência de que pensa errado. Mas de alguma forma o artigo da mulher parece ser mais prejudicial do que o do cara. Não respondo aqui a ela nem a ele. Nada digo aos jornais que os publicaram. Deixo aos leitores paulistanos que viram o show. Eles vão escrever protestando. Os jornais talvez publiquem algumas das cartas.

É notória, ao longo dos anos, a problemática relação de Caetano em aceitar críticas alheias (“O artista é, sempre, necessariamente, um maior, mais profundo e mais rigoroso crítico do que o crítico jamais poderá ser do artista”, já caetaneou certa vez), mas acredito que ele tenha acertado o alvo, apesar das ofensas gratuitas. Há, tanto no texto do Estadão (“Caetano, o Rei e o show de naftalina”) quanto no da Folha (“Roberto e Caetano fazem show chato”) a mesma espécie de reclamação: a falta de originalidade na apresentação das canções. Ora, o que esperavam? Versões drum n’ bossa de “Chega de Saudade”? Guitarras elétricas para “Wave”? Gritos ensandecidos de um hippie americano para “Garota de Ipanema”, como fizera Caetano e os Mutantes em “Proibido Proibir?”

Há, na crítica paulistana, aquela viciosa concepção roqueira oitentista de que bossa nova é música de elite. A “boba da Folha”, por exemplo, escreveu que eram “eventos elitistas, onde cantar baixinho sobre o amor, a saudade, o Corcovado e as belezas da orla carioca legitimavam o privilégio e a sofisticação de uma casta”. Por sua vez, Jotabê Medeiros, do Estadão, com mais articulação, também parecia não entender que o show era uma homenagem a Antônio Carlos Jobim, e não uma recriação moderninha ou estilizada de seus clássicos. É a tendência pelo imediatismo, pela novidade, pelo desrespeito com as tradições, típicos principalmente da parte cultural da Folha.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Além do que se vê (e se ouve)

No blog que mantenho como editor da Revista Wave (e que está vergonhosamente abandonado), pretendia criar uma série sobre minha imaturidade no julgamento de certos artistas. Iniciei explicando minha aversão inicial ao cineasta americano David Lynch, muito por culpa de uma crítica negativa de Rubens Ewald Filho, até então, minha referência de crítico de cinema (ó, santa inocência). Reproduzirei o texto aqui:

“O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: - o da imaturidade”, dizia Nelson Rodrigues. Estive pensando em como a idade interfere na compreensão de certas coisas. Análises movidas por rebeldia adolescente ou puro egocentrismo juvenil me impediram de admirar artistas e obras que hoje assumi verdadeira submissão.

Talvez o meu caso mais grosseiro seja o do cineasta David Lynch. Minha primeira experiência com o diretor foi o longa Os Últimos Dias de Laura Palmer (Fire Walk With Me, 1992), o qual assisti sem ter visto nenhum episódio de Twin Peaks. Achei tudo de mal-gosto, incompreensível, bobageira gratuita. Após não ter entendido bulhufas de Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive, 2002) – sejam razoáveis, eu tinha 18 anos – cheguei a mesma conclusão do Rubens Ewald Filho, em seu Dicionário de Cineastas (Editora Nacional, 2002): Lynch é um vigarista que complica quando não sabe explicar.

Agora, difícil é explicar porque minha opinião mudou após assistir a Coração Selvagem, que é considerado um dos mais fracos do diretor. O que percebi, finalmente, é que as interseções fantásticas e/ou bizarras que Lynch insere nos filmes não precisam ser necessariamente coerentes com o andamento da história. Não quero fazer spoiler para quem ainda não viu o filme, mas a aparição da Sheryl Lee no final é gloriosa, resolve todos os problemas do casal principal sem a preocupação com o absurdo da cena.

Sob esse aspecto – a noção de que a imagem é independente do contexto – revi os filmes citados e assisti àqueles que ainda não tinha visto, para chegar a conclusão de que Lynch é o maior cineasta vivo. O único gênio que trabalha com perfeição em todos as opções audiovisuais de um filme.

Outro caso de julgamento imaturo da minha parte diz respeito ao (extinta? em recesso?) grupo carioca Los Hermanos. Fui vítima da típica praga dos artistas cultuados: o fã chato. Amigos que gostavam da banda tentavam me convencer das qualidades do grupo com argumentos dignos de um José Ramos Tinhorão. “Resgate da música brasileira”, “modernização do samba” e “poesia romântica à Noel Rosa” e outras expressões gastas por pessoas que ouviam Los Hermanos como desculpa para ouvir rock sem se entregar as “tendências estadunidenses” tornavam ainda maior minha bronca com os barbudos.

O que é uma pena, visto que perdi várias chances de ver a catarse que eram os shows da banda ao vivo. Chance que poderei parcialmente recuperar com o lançamento do CD e DVD Multishow Registro - Los Hermanos (SonyBMG), gravado do show de despedida da banda, na Fundição Progresso, no Rio, no dia 9 de junho de 2007. Que será, aliás, exibido nessa quinta-feira , 28, no Multishow, às 22h15, e chega nas lojas amanhã (sexta).

Mas o que necessariamente fez mudar minha opinião sobre o grupo? A verdade é que, desde os Novos Baianos, não se via um grupo de formação baseada na concepção roqueira (guitarras, baixo, teclados e bateria) possuir em sua estrutura sonora tantas referências a tradição da música brasileira. O samba está presente, tanto na temática romantica de suas letras, quanto na criação rítmica (torta e branca; trata-se de um grupo de brancos universitários, é bom lembrar). “Samba a dois” é o exemplo óbvio.

A teoria tropicalista diz presente, ao constatarmos a fusão da música indie rock americana com compassos binários do samba tocados em guitarras distorcidas (“Além do que se vê”, por exemplo). Além da interpretação cada vez mais contida de Marcelo Camelo, que guarda (poucas, mas perceptíveis) ligações com a bossa nova. “Tá Bom”, do disco Ventura, e as faixas do último álbum da banda, 4, demonstram bem a evolução vocal do cantor. Claro, tudo sem grandes sofisticações, mas sempre me interessa essas recriações jovens de tradição clássica da nossa música. Só para lembrar, Chico Buarque é exímio em prestar homenagens (“Até pensei” é uma modinha, “Meu Caro Amigo” é chorinho, a própria “A Banda” é marchinha carnavalesca, dentre outros inúmeros exemplos) e ninguém reclama. Sem querer comparar, é óbvio. Pena, porém, que a banda tenha terminado (ou entrado em recesso) antes de atingir a real maturidade artística. Agora é esperar pelos projetos solos dos membros.

Caymmi, joga a rede no mar

Com o devido atraso – por motivos justificáveis, já que esse blog ainda não completou sequer um dia de existência - para lamentar a morte do grande Dorival Caymmi, aos 94 anos, por insuficiência renal e falência múltipla dos órgãos, no dia 16 de agosto, prestamos agora nossa homenagem a sua esposa Stella Maris, encontrada morta na tarde dessa quarta-feira, apenas dez dias após o enterro do compositor baiano. Stella estava internada em coma há mais de quatro meses e a causa da sua morte ainda não foi revelada pelo boletim médico do hospital onde estava internada. Que descanse em paz, juntamente ao esposo, em um paraíso onde o vento faça cantiga nas folhas no alto dos coquerais, como a sua tão cantada Itapoã.

A Carol Bataier, colunista da Revista Wave, preparou algumas horas após a morte de Caymmi o belíssimo texto que é destaque da página inicial do site. Confiram.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Mora na Filosofia

É difícil mesurar a real importância dos blogs para o jornalismo cultural, em especial o jornalismo musical, dado a achismos, a interpretações excessivamente subjetivas, a camaradagem entre artistas, e mesmo dentre a grande imprensa, pouco afeito a pesquisas históricas, análises e compreensões de fatos. Há uma ânsia pelo imediato, uma quase promiscuidade juvenil de parte da imprensa (e acompanhada pelo deslumbramento de alguns blogueiros mais jovens), que teima em ignorar a rica história do país e insiste em apostar em artistas esdrúxulos, num desesperado brainstorm musical.

Deve-se, porém, ter em mente que se de um lado temos a infrutífera busca por novos valores no cenário musical sendo quase sempre realizada de maneira desordenada e com poucos critérios pelos jornalistas mais jovens, é preciso também enfatizar certo – na falta de expressão melhor - desleixo da crítica remanescente do último período de brilho da música popular brasileira, aquele que compreende os anos de 1958 e 1972, entre o surgimento da bossa nova e o fim do Tropicalismo, com as novas expressões da música do país.

[Obviamente, é compreensível que esperar análises profundas e detalhadas de Ruy Castro, Tárik de Souza, Zuza Homem de Mello ou qualquer outro pesquisador musical com mais de sessenta anos sobre o fenômeno de internet Mallu Magalhães ou o sucesso emo do NX Zero seria um despropósito. Não custa, no entanto, citar Nelson Motta e seus jovens colaboradores do site Sintonia Fina, que sempre apresentam novas e boas dicas em seus informativos.]
Nota-se, portanto, enorme descuido da atual geração de jornalistas – salvo gratas exceções; Pedro Alexandre Sanches, na Carta Capital, e Marcus Preto, da Rolling Stone, e alguns outros – com o conhecimento histórico necessário a profissão de crítico musical. Claro que é necessário levar em conta as projeções editoriais, o número reduzido de caracteres para expressar longas idéias, além das pressões das agências de notícias, o que muitas vezes impossibilita maior tempo de compreensão do redator para com seu objeto de estudo. Mas é triste constatar que, em um país que tem ao longo dos anos a música como sua maior expressão cultural, fiquemos dependentes dos mesmos artistas e mesmos críticos de quarenta anos atrás.

O poeta e crítico literário T. S. Eliot costumava defender o dever do artista em “envolver ou buscar a consciência do passado” para que “possa continuar a desenvolvê-la ao longo de toda sua carreira”. Acredito que seja esse também o dever do crítico: a compreensão do passado para saber esboçar um presente útil ao prosseguimento da boa tradição da cultura do país. É lição básica, acredito, mas não foi aprendida nas grandes redações de país – e invariavelmente, essa mentalidade imediatista é copiada pela maioria dos blogueiros nacionais. O número de jornalistas que aparentam desconhecer as obras básicas de um Dorival Caymmi, de um Ary Barroso, mas seriam capazes de soletrar todas as letras de um disco do Arctic Monkeys, é maior do que se pensa.

Não se trata de ufanismo ou saudosismo. Vivemos em um mundo livre e democrático, todos tem acesso a suas particularidades e possuem suas predileções. Porém, não me parece aceitável essa negligência com o futuro e com a evolução da música popular do país pela imprensa, notadamente a imprensa paulista. Enquanto o cinema atinge seus melhores índices de sintonia entre público e crítica, há total discordância entre o gosto musical da população, oriundo do funk, do sertanejo universitário, das micaretas, e as predileções estampadas pelos críticos, baseado em reproduzir em campo nacional tendências anglófilas ou publicar textos elogiosos de críticos consagrados a artistas consagrados. Enquanto isso, textos empolgados com a nova geração de talentosos músicos do país, como os publicados na edição de julho da Bravo!, sobre Jonas Sá, Curumin e Nina Becker, passam despercebidos.

O Camisa Amarela é meu projeto pessoal para tentar proporcionar aos futuros leitores essa característica de compreensão e adequação da crítica musical, aliada tanto da modernidade quanto da tradição, e que penso ser rara no jornalismo do país. Claro que, dentro das possibilidades prováveis a um estudante de jornalismo consciente de que ainda há muito o que absorver, tanto da tradição musical quanto o ofício da escrita em si. Como editor da Revista Wave, publicação cultural eletrônica que completou dez edições nesse mês de agosto, pretendi criar aqui um espaço particular pela minha grande paixão pelo jornalismo musical e meu enorme amor pela música popular brasileira. Estarei presente aqui, tecendo comentários exclusivamente sobre o mundo da música, mas peço que confiram minhas opiniões, artigos, reportagens e resenhas sobre assuntos divertos no site da Revista Wave e no meu outro blog. Estabelecer a discussão cultural em um país tão rico quanto o nosso é a motivação que conduz meu caminho.