quinta-feira, 9 de outubro de 2008
On The Rock
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Reflexo
O especial da semana é uma matéria do amigo Felipe Arra sobre os bastidores da realização do curta-metragem Reflexo, projeto de alunos do curso de Rádio e TV da UNESP. O filme estréia no dia 3 de novembro em Bauru em salas de grande porte da cidade. A matéria ficou pronta antes da divulgação oficial do cartaz do curta, que você pode conferir abaixo.

[Sim, há membros da redação da Revista Wave envolvidos na produção e atuação do filme. Antes que sejamos acusados de excesso de camaradagem por ajudar na divulgação de projetos de amigos em um site que se propõe jornalístico, penso que qualquer mente pensante que se atreva a ler o conteúdo do texto perceberá a isenção na confecção da matéria e que o real enfoque é documentar o funcionamento e a realização de um curta-metragem independente.]
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Meme e eu, eu e meme
O presente (de grego) se revelou então. Consiste em criar uma lista das sete músicas preferidas em todos os tempos e repassar o abusado meme para outros cinco blogueiros. Ao que parece, o tal meme sugere algo descompromissado, leve, sem muita encanação (pelo menos, é no que tento acreditar para evitar futuras cobranças, mais internas que externas).
Portanto, subvertendo um pouco as regras, decidi criar duas listas. Uma de música nacional e outra de música geral, digamos assim. Assim, aumento as probabilidades de não me irritar com a minha própria lista. Abaixo, os blogs que receberão o meme e que, sem dúvida, criarão listas muito diferentes das minhas.
Músicas nacionais
1) “Chega de Saudade”, por João Gilberto (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
2) “Baby”, por Gal Costa (Caetano Veloso)
3) “Águas de Março”, por Elis Regina e Tom Jobim (Tom Jobim)
4) “Esotérico”, por Doces Bárbaros (Gilberto Gil)
5) “Travessia”, por Milton Nascimento (Milton Nascimento/Fernando Brandt)
6) “Construção”, por Chico Buarque (Chico Buarque)
7) “Sá Marina”, por Wilson Simonal (Antônio Adolfo/Tibério Gaspar)
Músicas internacionais
1) “Let Down”, Radiohead
2) “Man On The Moon”, R.E.M.
3) “Ultra-Violet (Light My Way)”, U2
4) “In Dreams”, Roy Orbison
5) “My Cherie-Amour”, Stevie Wonder
6) “Dancing In The Dark”, Bruce Springsteen
7) “Rocking Back Inside My Heart”, Julle Cruise
Cheer-leader
sábado, 4 de outubro de 2008
VMB 2008
Júnior (ex-Sandy, bateria), Peu (ex-Pitty, guitarra), Champignon (ex-Charlie Brown, baixo), mais o vocalista zé-ninguém Perí, ao vivo pela primeira vez, no VMB 2008, da MTV. Tudo para dar errado, membros retirados dos maiores cancêres da música jovem brasileira dos últimos anos. Por isso meu espanto ao gostar tanto da música. Peu e Champignon são ótimos músicos e o Júnior é uma enorme surpresa: não há, no rock mainstream brasileiro, uma bateria tão inventiva e pesada, com belos fraseados, como a dessa música, "Chove Agora". O ponto fraco é Perí, que forçou demais para simular Scott Weiland, do Stone Temple Pilots, e que tem a voz bem limitada. Em estúdio, quem sabe ocorra um upgrade? Enfim, muito melhor que a vergonhosa apresentação em playback dos ingleses do Bloc Party.
Quanto aos prêmios e premiações, quem se importa com o VMB? São os mesmos artistas concorrendo, os mesmos artistas vencedores, as mesmas apresentações constrangedoras de sempre. Justa foi a presença do Chimbinha, do Calypso, na votação da Banda dos Sonhos, com Marcelo D2 no vocal e os Paralamas Bi e Barone no baixo e na bateria. Formação bizarra mesmo foi a apresentação conjunta da banda emo Fresno e os sertanejos Chitãozinho & Xororó, na clássica "Evidências". Música jovem é isso aí, meu rei, com direito a participação ativa e tudo da platéia.
Lista dos vencedores do MVB 2008
Artista do ano: NX Zero
Melhor artista internacional: Paramore
Artista revelação: Strike
Aposta MTV: Garotas Suecas
Hit do ano: NX Zero, "Pela Última Vez"
Show do ano: Pitty
Melhor videoclipe: NX Zero, "Pela Última Vez"
Webhit do ano: "Dança do quadrado"
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Tin Tin Por Tin Tin
Entendo-os, de certa maneira. Ouvir João Gilberto requer uma espécie de ritual para se adentrar nas grandes qualidades da obra do baiano, que são justamente a sutileza, a riqueza de detalhes, aquela divisão rítmica toda particular, a paradoxalmente contrastante harmonia entre voz e violão, a respiração perfeita. Necessita-se de silêncio e concentração com um único enfoque e com uma única finalidade: a apreciação musical. A letra das canções, a emoção exacerbada, a contextualidade da obra, as roupas usadas pelo artista e todas essas outras características que encobrem a obra de vários talentos pelo mundo não devem ser levadas em conta ao se ouvir João Gilberto.
Ali, o quando, o onde e o porquê pouco importam. O que interessa é o como. João reinterpreta qualquer canção de uma maneira particularíssima que nem o próprio repete. E isso é dos maiores atrativos do artista. Com apenas a voz e o violão, ele poderá repetir ad infinitum uma música como “O Pato” e é muito provável que cada versão terá algum diferente mínimo detalhe, alguma sílaba levemente adiantada ou atrasada, algum acorde alongado, alguma vocalização extra.
Enfim, tudo isso já foi dito várias vezes por outros admiradores de João (mesmo na Wave já publiquei um texto sobre o disco Amoroso, de 1977). Mas repeti apenas para ilustrar com um ótimo texto alheio uma das minhas características preferidas do baiano ermitão, que é a sua incrível capacidade de respiração. O Tiago A., em texto ainda não finalizado sobre a recente apresentação em Salvador, faz uma análise sobre a forma de João cantar “Retrato em Branco e Preto”. O texto é divertido e me fez perceber que não sou o único que também realiza a brincadeira da respiração. No final, um vídeo de João Gilberto interpretando a já citada "Retrato em Branco e Preto". Leiam o texto inteiro sobre o show no blog do Tiago (publicado em duas partes, até o momento; uma terceira vem aí), vale muito a pena. Os comentários em parentêses são meus.
1 Já conheço os passos dessa estrada
(Os algarismos estranhos estão aí para que, mais adiante, eu possa falar mais facilmente da maneira como João executou essa canção ao longo de sua carreira.) Conta a internet que Tom Jobim gravou a música pela primeira vez em 1965, no álbum A Certain Mr. Jobim. Nessa época ela ainda não tinha letra e se chamava "Zíngaro". Só depois, quando Tom a deu a Chico para que este fizesse a letra, é que ela passou a se chamar "Retrato em Branco e Preto". Se não estou enganado, João Gilberto a registrou em quatro de seus discos. A primeira vez foi num disco de 1976: The Best of Two Worlds, gravado ao vivo em Nova York, com Miúcha e Stan Getz. A segunda foi em estúdio; está em Amoroso, de 1977. A terceira aconteceu num show especial para a Rede Globo, que virou disco em 1980. A quarta e última vez está no disco de 1986, que registra seu show no 19º Montreux Jazz Festival.
Para falar do que torna as versões de João mais especiais que todas as outras que já ouvi, vou recorrer a um episódio auto-biográfico. Minha primeira audição dessa música na voz e no violão de João se deu na tarde do dia em que pus as mãos no disco do especial da Globo, disco que se chama João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (e esse disco ainda tem outra preciosidade: o dueto de João e Rita Lee na música "Joujoux e Balangandãs", de Lamartine Babo). Eu já tinha lido Chega de Saudade, de Ruy Castro, e já tinha topado a brincadeira que ele lá sugere: a de botar os discos de João pra tocar e tentar cantar junto com ele, karaokê-style. Durante um tempo, essa foi minha brincadeira favorita. A graça dela está em que fazer isso é bem difícil, porque João Gilberto tem um jeito especial de tomar fôlego para cantar: a reserva de ar que ele faz é tão gigantesca que ele consegue emendar um determinado verso de uma canção no verso seguinte e no outro e no outro sem precisar respirar entre eles (v. g.: João conseguiria ler esse último período em voz alta com um só fôlego e ainda assobiaria no final). Quando Ruy Castro chamou minha atenção para isso, passei a prestar atenção nos momentos em que João pegava ar, para tentar fazer igual. Depois de algumas tentativas, eu invariavelmente conseguia (aspectos como afinação e beleza nunca foram necessariamente levados em conta). Mas com "Retrato em Branco e Preto", a tarefa parecia impossível (aliás, considero que em "Águas de Março", gravada por João no seu disco de 1973, tal tarefa seja ainda mais ingrata; ele simplesmente emenda frases e frases sem parar).
Para entender o que estou tentando dizer, experimente este teste. Cante "Retrato em Branco e Preto" e preste atenção nos momentos em que você vai parar pra respirar. Cante, vá―pra ficar mais confortável, certifique-se de que ninguém está olhando. E só leia o resto depois de ter feito o teste; se não, não tem graça.
Pronto? Bem, se você for um cidadão comum, são grandes as chances de que você tenha respirado ao fim de cada verso ou que, no máximo, tenha conseguido cantar dois deles, antes de sentir a necessidade de respirar de novo. Espero que a partir de agora, depois desse pequeno exercício, você possa entender (como eu entendi quando ouvi a música pela primeira vez) a razão por que João Gilberto não é um cidadão comum. Saiba que, enquanto você e eu, em nossas execuções dessa canção, tendemos a cantar um, no máximo dois versos, parar, respirar e cantar mais um, o mínimo que João Gilberto costuma cantar é uma estrofe inteira! (Considero estrofes os trechos que aparecem entre os algarismos.) E no disco do especial da Globo, onde a ouvi pela primeira vez, ele faz o impossível. Logo na primeira execução do tema, canta do início da linha 4 até o fim da linha 10: de " Já conheço as pedras do caminho" até "E que no entanto".
Aí você diz, "Ah, isso é fácil. Basta cantar mais rápido", e eu ouço você dizer isso e te informo que João canta "Retrato em Branco e Preto" sem alterar seu andamento. Quer dizer, ele até altera, mas apenas para torná-lo ainda mais lento!
Fim da breve digressão.
Se você não toma cuidado, acaba viciando nessa brincadeira e não consegue mais ouvir João Gilberto sem prestar atenção nos momentos em que ele respira. Passa, então, a ter uma espécie de piada interna com ele: as outras pessoas, as que não repararam nisso ainda, ouvem a execução, e só. Você, não. Você fica recebendo uma mensagem contínua de João, em que se desvenda mais um pouco desse modo falsamente simples de fazer música, que tanto engana. Para quem ouve inadvertidamente, João aparece como alguém que não está fazendo esforço algum para cantar. Mas você, que adquiriu o hábito de enfileirar vários arquivos em mp3 da mesma canção para ouvi-los um atrás do outro, reparando nas sutilezas, nas diferenças entre uma versão e outra, você sabe precisamente o que está em jogo ali.
Portfolio de Internet
Abaixo, links de textos publicados de abril de 2007 até setembro de 2008.
Entrevistas
Jair Naves, vocalista da banda Ludovic - Scream & Yell (04/07)
Alex Antunes - Scream & Yell (05/07)
Supercordas - Flop Art (07/07)
Vanessa Krongold, vocalista da banda Ludov - Revista Paradoxo (08/07)
Fabs, vocalista da banda Telepatas - Revista Paradoxo (10/07)
Do Amor - Revista Paradoxo (01/08)
Arnaldo Branco - Revista Wave (05/08)
Notícias
Novo disco da banda Manic Street Preachers vaza na Internet semanas antes do lançamento oficial - Revista Paradoxo (04/07)
Marcelo Camelo lança Sou, aguardado disco solo - Revista Wave (09/08)
Reportagens
Especial Radiohead: 10 anos de "OK Computer" - Revista Paradoxo (06/07)
Melhores de 2007 - Matita Perê (12/07)
Quer conhecer o Tropicalismo - Revista Paradoxo (08/07)
O Tropicalismo é lindo! - Revista Paradoxo (08/07)
A Falsa Inclusão Digital - Revista Wave (04/08)
Resenhas, críticas e comentários
Arctic Monkeys, "Favourite Worst Nightmare" - Revista Paradoxo (04/07)
White Stripes, "Icky Thump" - Revista Paradoxo (04/07)
Dolores O'Riordan, "Are You Listening?" - Banana Mecânica (05/07)
Alguém se importa com Natalie Imbruglia? - Revista Paradoxo (08/07)
Apresentação de Jorge Mautner no SESC de Bauru - Revista Paradoxo (09/07)
Maria Rita, "Samba Meu" - Revista Paradoxo (09/07)
10 Discos Essenciais da Bossa Nova - Revista Wave (02/08)
Vários, "O Novo Rock Brasileiro" - Revista Wave (02/08)
João Gilberto, "Amoroso" - Revista Wave (04/08)
Luiz Melodia, "Pérola Negra" - Revista Wave (04/08)
Stanley Kubrick, "Nascido Para Matar" - Revista Wave (04/08)
Ney Matogrosso, "Inclassificáveis" - Revista Wave (05/08)
Frank Sinatra, "Nothing But The Best" - Revista Wave (05/08)
Coldplay, "Viva la Vida and Death to All His Friends - Revista Wave (06/08)
Marcos Valle, "Conexão" - Revista Wave (07/08)
"Batman - O Cavaleiro das Trevas" - Revista Wave (08/08)
CSS, "Donkey" - Revista Wave (08/08)
Artigos e crônicas
"OK Computer" - o segundo maior disco do rock? - Revista Paradoxo (06/08)
Seja agressivo! - Flop Art (07/07)
Complexo de vira-latas - Revista Bacana (08/07)
O que foi o Tropicalismo? - Revista Paradoxo (08/07)
A América Tropicalista de Agrippino - Revista Wave (02/08)
Crônica: A colméia - Revista Wave (03/08)
"Rio, 40 Graus" e o cinema nacional - Revista Wave (05/08)
Roda mundo, roda gigante - Revista Wave (04/08)
Brasil em Transe - Revista Wave (05/08)
Perfis
Kevin Carter - Revista Wave (02/08)
Leila Diniz - Revista Wave (03/08)
Fred Astaire - Revista Wave (05/08)
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Revista Wave - Edição 011
Para o aficionado em música, já comentei aqui as duas matérias que escrevi para a revista. Perfil do recém-falecido Waldick Soriano e uma matéria sobre o novo disco de Marcelo Camelo (vale informar: as quatro faixas que ainda não haviam sido liberadas já estão disponíveis para download). O Cesare Rodrigues publicou uma apresentação a tradicional poesia japonesa Haicai e nos presenteou com alguns poemas de sua autoria. Na seção “Opinião”, tivemos a estréia do mais jovem colaborador do site, Vinicius Félix, 18, que assistiu ao stand-up do Rafinha Bastos, um dos apresentadores do CQC, o melhor programa da televisão brasileira atual.
Menção válida ainda para o Tiago Lopes que comparou a utilidade dos documentários de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles com o Bolsa Família (tão louvado pelo presidente Lula, “o maior mantenedor do gentinha lifestyle”, segundo o Tiago) e para os colunistas Joaquim Veloso, inconformado com o desprovido de inteligência Dunga, técnico da seleção, e Carol Bataier, essa “artista das letras”, segundo comentário espirituoso de um amigo.
*Como trilha sonora da realização dessa edição, já que o Camisa Amarela é um blog musical, andei a ouvir o disco Minas, de 1975, do Milton Nascimento - que tem “Fé Cega, Faca Amolada”, “Beijo Partido” e a épica “Ponta de Areia” -, o divertidíssimo disco de 1967 de Elza Soares e Miltinho e muito Julieta Venegas, que eu já comentei no último post e que é aquele tipo de cantora pop, ao mesmo tempo refinada e descompromissada, que não existe no Brasil. Além, é claro, da estréia solo do Marcelo Camelo e de algumas coletâneas do já saudoso Waldick Soriano.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Por ella no supe que hacer
domingo, 7 de setembro de 2008
Canção do amor demais
Aparentemente antagônicos, há certas semelhanças entre os dois artistas que penso ser interessante mencionar. Tanto Marcelo quanto Waldick possuem em comum a problemática de aceitação e de divisores agudos de opinião: o “ame ou odeie” cabe perfeitamente na trajetória de ambos e os argumentos prós podem ser tão eficazes quanto os contras. A mesma perseverança religiosa com a que os fãs dos Los Hermanos devotavam ao ex-grupo de Marcelo corresponde ao fervor e ardor sentimental que Waldick, décadas após seus grandes momentos, costumava presenciar (e presentear) em seus últimos shows, principalmente no Nordeste, onde sempre foi rei.
Ambos cantavam as agruras do amor sem medo de soarem ridículos. Porém, se Waldick optou por reciclar o mesmo tema durantes anos e foi vítima do desprezo intelectual dos pensadores da música popular brasileira, há em Marcelo a possibilidade de ascender para essa classe que tanto rejeitou o cafona Waldick. O que provavelmente incitará novos preconceitos: vista como elitista, arrogante e setorizada, a MPB continua a provocar uma total falta de entrosamento com o público brasileiro. Marcelo, carioca, jovem e talentoso, carrega o estigma de herói universitário, apreciador do samba e revitalizador das nossas tradições musicais – o que causa repulsa em muita gente; a quem você acha que Lobão se refere na já famosa entrevista para o Jornal do Brasil ("aquele jornal que existia no Rio e que ainda existe", brincou recentemente Caetano) quando diz que “Tem que parar com essa coisa de ficar lambendo o saco de universotário marxista branquelo, essa coisa loser manos, petista, que virou maioria no Brasil. Porque o Brasil é o país da culpa católica, um país em que se valorizam as pessoas feias”?
Enfim, maiores discussões serão encontradas nos textos do site. Há mais a falar, mas confesso que nesse fim de semana vi-me envolvido por uma preguiça absurda e esperarei que alguma força estranha no ar (para citar Roberto Carlos – ou Caetano, não é? - que coincidentemente, apareceu na minha playlist no exato momento) motive meus próximos dias. Até lá.
*Aliás, a tal preguiça deve ter surgido por conta dessa sensação – citando Camelo em “Copacabana” - de que “meu coração tá com jeito de bem me quer, mulher”. Então fica tudo relegado instantaneamente em segundo plano. O leitor, um voraz apaixonado, acredito eu, entenderá.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Curimã ê!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Créu no pato
sábado, 30 de agosto de 2008
Pra lá de Teerã
EU NÃO IA, NÃO fazia questão e, aliás, já tinha até matutado aproveitar a ocasião para dar mais uma desancada no rei, no meu site/blog, por conta daquela história escandalosa da biografia que ele censurou sem nem ao menos ler. Mas, na última hora, um amigo me convidou e eu, meio por dever de ofício, meio para honrar o privilégio concedido pelo amigo, acabei aceitando e indo ao Auditório Ibirapuera ver Roberto Carlos e Caetano Veloso cantando Jobim, no show em homenagem à bossa nova.
A noite saiu melhor do que a encomenda. Músicos de primeira qualidade, cenário corretíssimo, organização bombando, toda a bela (e “brutta”) gente de São Paulo comovidíssima na platéia, dois grandes ídolos no palco, enfim, acabei tendo de confessar, na minha coluna da Bandnews FM, que eu deveria pagar a língua, uma vez que o espetáculo tinha sido memorável. Pois qual não foi minha surpresa, no dia seguinte, quando fui ler os jornais e dei de cara com dois textos espinafrando o show. Peraí: será que estávamos no mesmo local? Abro aqui um parêntese para dizer que respeito os colegas que assinaram os textos em questão. Jotabê Medeiros (”O Estado de S. Paulo”) e Sylvia Colombo, desta Folha, são o que há de melhor no jornalismo cultural tapuia.
Além do que, conheço ambos e gosto deles. Tanto gosto, que sinto-me à vontade para discordar de tudo o que eles disseram. Vamos lá: Jotabê chamou o show de “naftalínico”, disse que “o concerto cedeu à nostalgia”. Ué, mas não era isso mesmo que o pessoal queria ver? Ou será que Roberto e Caetano deveriam ter apresentado roupagens inteiramente novas e exóticas para músicas incrustadas em nossa medula espinhal? Você pega dois artistas de uma certa idade, de estilos solidificados e glorificados, os coloca para cantar um repertório “clássico” e quer que eles promovam a queda da Bastilha? Para quê, Jotabê? Na minha modestíssima opinião, um dos aspectos mais sedutores do show foi justamente sua simplicidade. Jotabê, que sabe tudo de música, implicou de tal forma com o espetáculo que no seu texto sobrou até para o neto do homenageado: “O pianista Daniel Jobim usava chapéu característico do avô, como que para reiterar a onipresença do compositor. Um gesto dispensável, já que o próprio repertório tinha essa função”. Pois eu achei o panamá do Daniel um charme. E charme tem tudo a ver com bossa nova, tem não, JB?
A única coisa de que não posso discordar é quando ele diz que o Caetano deu “sambadinhas à Rubens Barrichello”. Bom humor é sempre a salvação da pátria. Sylvia Colombo, por sua vez, já chuta o balde na entrada. Começa dizendo que as celebridades estavam “loucas para aparecer” e que os fotógrafos emperravam a passagem. Sim, e daí, o que há de novo no front? Se em um evento dessa natureza a turma não estiver excitada, e se só um ou dois fotógrafos derem as caras, não terá sido um fracasso retumbante? As mesmíssimas duas coisas também podem ser ditas, digamos, da noite do Oscar. Sylvia fala ainda em desrespeito ao público. Ora, o que se viu ali não foi um evento normal com ingressos vendidos em bilheteria. A maioria dos bacanas que ali estava foi a convite do banco que patrocinou a brincadeira. Se era para ficar tiririca, que fosse com isso. E não com os dois artistas, que estiveram impecáveis.
Aliás, o assunto repercutiu tanto que o blog do Caetano no qual ele desanca com os jornalistas paulistanos ficou fora do ar pela quantidade de acessos na madrugada dessa sexta-feira. Muito também em razão de sua entrevista para o programa do Jô, quando o gordinho simpático solicitou de Caê “aquela música, ‘Sem lenço, nem documento’” e teceu tristes e desconhecidos comentários sobre Noel Rosa e Pixinguinha. Vergonha alheia total. Até o Lula resolveu tirar proveito nessa situação e falar sobre Caetano.
De toda essa saraivada de opiniões, há de se destacar as impressões do jornalista Pedro Alexandre Sanches (o último crítico musical decente da, que coisa, Folha de S. Paulo) sobre o show em homenagem a Jobim, com os méritos de quem escreveu dois belíssimos tratados sobre a Tropicália de Caetano e sobre a Jovem Guarda de Roberto, os livros Tropicalismo: Decadência Bonita do Samba e Como Dois e Dois São Cinco, ambos da Boitempo Editorial. É o mais belo texto sobre a apresentação dos dois cânones da MPB e não está presente em publicação alguma, mas apenas no ótimo blog do Pedro.
Para encerrar o assunto das intrigas, partiremos para a música, que é o que de fato interessa. Em vídeo, dois momentos da maior importância: o primeiro é a primeira aparição da dupla no segundo especial do Roberto para a Globo, em 1972. A música é “Como Dois e Dois”, a canção que Caetano fez no exílio londrino para retribuir “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”, que por sua vez é uma homenagem do Rei para o baiano. A música foi incluída no melhor disco de Roberto, o LP de 71 (o de “Detalhes”, “Todos Estão Surdos” e a própria “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”). De bônus, uma curiosa conversa sobre a rivalidade entre Emilinha e Marlene, que poderia servir de metáfora da suposta tensão ideológica entre Caetano e Roberto.
O outro vídeo é a óbvia “Alegria, Alegria”, gravada no programa natalino do Rei, em 1992, no ano dos caras-pintadas, do Impeachment do Collor e do sucesso da mini-série Anos Rebeldes, do Gilberto Braga, que colocou novamente a canção de Caetano em evidência. É meu primeiro provável contato com Caetano, quando eu tinha meus singelos cinco anos de idade. Lembro que foi das primeiras letras de música que decorei na vida. Atenção para o refrão: a voz de Roberto, no trecho “o sol é tão bonito” é deveras emocionante.
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
"Eu sou um crítico muito melhor do que noventa mil vezes eles juntos, mutiplicados, entendeu?"

Pois bem. Para quem não sabe, Caetano Veloso escreve regularmente no hotsite “Obra em Progresso”, uma espécie de blog em que o internauta pode acompanhar passo a passo da criação do novo disco do baiano, que deve ser lançado no fim do ano. Se inicialmente, o site abrigava vídeos com entrevistas ou trechos de músicas de shows, nas últimas semanas, o artista também aproveita o espaço para expor suas opiniões, tal qual vem fazendo desde pelo menos, 1966. E não é que o blogueiro Caê também mostra indignação com a imprensa paulistana?
Os alvos são “a boba da Folha” (Sylvia Colombo) e “o burro do Estadão” (Jotabê Medeiros). Escreveu Caetano, sobre as críticas recebias pelo seu show em parceria com Roberto Carlos na última segunda, no Auditório Ibirapuera, em homenagem a Tom Jobim:
Estou tão enfronhado no Rio com esse projeto da Obra em Progresso que tenho me sentido longe à beça de São Paulo. Vim aqui fazer o show com o Rei no belo teatrinho do Niemeyer no Ibirapuera e senti o tamanho da saudade que eu estava de Sampa. O teatro é elegante e induz à quietude. Se o show fosse no Ginásio do Ibirapuera, o ruído dos aplausos assustaria a boba da Folha e o burro do Estadão que escreveram sobre o show. Há anos não leio nada tão errado sobre música brasileira - e, mais uma vez, envolvendo Roberto Carlos e este transblogueiro que vos fala.
E prossegue:
Escrevo isso só para mostrar aos que comentaram as críticas hilárias da província paulistana que também li e que fiquei com pena dos dois fanfarrões que não sabem nem escrever. O do Estadão então é inacreditável. Como é que qualquer editor deixa sair um texto com tantos erros de português, tantas redundâncias e obscuridades, tamanha incapacidade de articular pensamentos? A da Folha não sabe pensar mas exprime de forma primária esse seu não-saber. O outro, nem isso. O texto dele é tão mal escrito que a gente tem de adivinhar o que ele pensa - e chega à evidência de que pensa errado. Mas de alguma forma o artigo da mulher parece ser mais prejudicial do que o do cara. Não respondo aqui a ela nem a ele. Nada digo aos jornais que os publicaram. Deixo aos leitores paulistanos que viram o show. Eles vão escrever protestando. Os jornais talvez publiquem algumas das cartas.
É notória, ao longo dos anos, a problemática relação de Caetano em aceitar críticas alheias (“O artista é, sempre, necessariamente, um maior, mais profundo e mais rigoroso crítico do que o crítico jamais poderá ser do artista”, já caetaneou certa vez), mas acredito que ele tenha acertado o alvo, apesar das ofensas gratuitas. Há, tanto no texto do Estadão (“Caetano, o Rei e o show de naftalina”) quanto no da Folha (“Roberto e Caetano fazem show chato”) a mesma espécie de reclamação: a falta de originalidade na apresentação das canções. Ora, o que esperavam? Versões drum n’ bossa de “Chega de Saudade”? Guitarras elétricas para “Wave”? Gritos ensandecidos de um hippie americano para “Garota de Ipanema”, como fizera Caetano e os Mutantes em “Proibido Proibir?”
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Além do que se vê (e se ouve)
O que é uma pena, visto que perdi várias chances de ver a catarse que eram os shows da banda ao vivo. Chance que poderei parcialmente recuperar com o lançamento do CD e DVD Multishow Registro - Los Hermanos (SonyBMG), gravado do show de despedida da banda, na Fundição Progresso, no Rio, no dia 9 de junho de 2007. Que será, aliás, exibido nessa quinta-feira , 28, no Multishow, às 22h15, e chega nas lojas amanhã (sexta).
Mas o que necessariamente fez mudar minha opinião sobre o grupo? A verdade é que, desde os Novos Baianos, não se via um grupo de formação baseada na concepção roqueira (guitarras, baixo, teclados e bateria) possuir em sua estrutura sonora tantas referências a tradição da música brasileira. O samba está presente, tanto na temática romantica de suas letras, quanto na criação rítmica (torta e branca; trata-se de um grupo de brancos universitários, é bom lembrar). “Samba a dois” é o exemplo óbvio.
A teoria tropicalista diz presente, ao constatarmos a fusão da música indie rock americana com compassos binários do samba tocados em guitarras distorcidas (“Além do que se vê”, por exemplo). Além da interpretação cada vez mais contida de Marcelo Camelo, que guarda (poucas, mas perceptíveis) ligações com a bossa nova. “Tá Bom”, do disco Ventura, e as faixas do último álbum da banda, 4, demonstram bem a evolução vocal do cantor. Claro, tudo sem grandes sofisticações, mas sempre me interessa essas recriações jovens de tradição clássica da nossa música. Só para lembrar, Chico Buarque é exímio em prestar homenagens (“Até pensei” é uma modinha, “Meu Caro Amigo” é chorinho, a própria “A Banda” é marchinha carnavalesca, dentre outros inúmeros exemplos) e ninguém reclama. Sem querer comparar, é óbvio. Pena, porém, que a banda tenha terminado (ou entrado em recesso) antes de atingir a real maturidade artística. Agora é esperar pelos projetos solos dos membros.
Caymmi, joga a rede no mar

A Carol Bataier, colunista da Revista Wave, preparou algumas horas após a morte de Caymmi o belíssimo texto que é destaque da página inicial do site. Confiram.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Mora na Filosofia
Deve-se, porém, ter em mente que se de um lado temos a infrutífera busca por novos valores no cenário musical sendo quase sempre realizada de maneira desordenada e com poucos critérios pelos jornalistas mais jovens, é preciso também enfatizar certo – na falta de expressão melhor - desleixo da crítica remanescente do último período de brilho da música popular brasileira, aquele que compreende os anos de 1958 e 1972, entre o surgimento da bossa nova e o fim do Tropicalismo, com as novas expressões da música do país.
[Obviamente, é compreensível que esperar análises profundas e detalhadas de Ruy Castro, Tárik de Souza, Zuza Homem de Mello ou qualquer outro pesquisador musical com mais de sessenta anos sobre o fenômeno de internet Mallu Magalhães ou o sucesso emo do NX Zero seria um despropósito. Não custa, no entanto, citar Nelson Motta e seus jovens colaboradores do site Sintonia Fina, que sempre apresentam novas e boas dicas em seus informativos.]
O poeta e crítico literário T. S. Eliot costumava defender o dever do artista em “envolver ou buscar a consciência do passado” para que “possa continuar a desenvolvê-la ao longo de toda sua carreira”. Acredito que seja esse também o dever do crítico: a compreensão do passado para saber esboçar um presente útil ao prosseguimento da boa tradição da cultura do país. É lição básica, acredito, mas não foi aprendida nas grandes redações de país – e invariavelmente, essa mentalidade imediatista é copiada pela maioria dos blogueiros nacionais. O número de jornalistas que aparentam desconhecer as obras básicas de um Dorival Caymmi, de um Ary Barroso, mas seriam capazes de soletrar todas as letras de um disco do Arctic Monkeys, é maior do que se pensa.
Não se trata de ufanismo ou saudosismo. Vivemos em um mundo livre e democrático, todos tem acesso a suas particularidades e possuem suas predileções. Porém, não me parece aceitável essa negligência com o futuro e com a evolução da música popular do país pela imprensa, notadamente a imprensa paulista. Enquanto o cinema atinge seus melhores índices de sintonia entre público e crítica, há total discordância entre o gosto musical da população, oriundo do funk, do sertanejo universitário, das micaretas, e as predileções estampadas pelos críticos, baseado em reproduzir em campo nacional tendências anglófilas ou publicar textos elogiosos de críticos consagrados a artistas consagrados. Enquanto isso, textos empolgados com a nova geração de talentosos músicos do país, como os publicados na edição de julho da Bravo!, sobre Jonas Sá, Curumin e Nina Becker, passam despercebidos.
O Camisa Amarela é meu projeto pessoal para tentar proporcionar aos futuros leitores essa característica de compreensão e adequação da crítica musical, aliada tanto da modernidade quanto da tradição, e que penso ser rara no jornalismo do país. Claro que, dentro das possibilidades prováveis a um estudante de jornalismo consciente de que ainda há muito o que absorver, tanto da tradição musical quanto o ofício da escrita em si. Como editor da Revista Wave, publicação cultural eletrônica que completou dez edições nesse mês de agosto, pretendi criar aqui um espaço particular pela minha grande paixão pelo jornalismo musical e meu enorme amor pela música popular brasileira. Estarei presente aqui, tecendo comentários exclusivamente sobre o mundo da música, mas peço que confiram minhas opiniões, artigos, reportagens e resenhas sobre assuntos divertos no site da Revista Wave e no meu outro blog. Estabelecer a discussão cultural em um país tão rico quanto o nosso é a motivação que conduz meu caminho.